Sabemos que, de modo geral, inicialmente as amizades são entre crianças que vivem próximas, frequentam a mesma escola ou fazem algum tipo de atividade juntas. Geralmente essa amizade surge de crianças com idades próximas e de mesmo sexo, buscando nivelar o desenvolvimento e atividades que socialmente seriam ligadas a um gênero ou outro (ideia que vem sendo bastante discutida, desconstruída e criticada na atualidade).
A amizade claramente beneficia e desenvolve habilidades como a socialização, senso de afiliação, liderança, comunicação, cooperação, bem como a introjeção das regras sociais. À medida que a criança vai crescendo e tendo contato com lugares onde a influencia da família vai sendo diminuída, surge o teste de valores e as comparações daquilo que foi aprendido em casa.
Identificar-se com um grupo contribui com a auto-estima, senso de pertencimento e bem-estar.
Quanto ao conceito de amizade que as crianças têm, uma pesquisa feita em 2011 pela Universidade Federal do Espírito Santo¹ concluiu, dentre outras coisas, que a fase do desenvolvimento influencia na maneira em que a criança entende seus amigos:
"Com relação ao conceito de amizade, nota-se que as crianças de sete anos vinculam o fato de não fazerem mal ao outro com a amizade. Já as de nove anos definem amizade pelo fato de terem o outro incluído na sua vida. As de 11 anos, por outro lado, definem que não é só deixar de fazer o mal, nem só o fato de terem o amigo fazendo parte da vida, mas relacionam amizade à possibilidade de estarem próximos, de fazerem coisas juntos.
É possível observar, portanto que o conceito de amizade, vai se alterando ao longo do processo de desenvolvimento, partindo de uma ideia mais simplista e egocêntrica e indo até um ideal de empatia e companheirismo. Os participantes puderam então expressar não só o que entendem que é esse relacionamento com um amigo, mas como ele começa, se mantém e, eventualmente, termina".
A amizade, a confiança e os vínculos adquiridos na infância transpassam a vida adulta e são importantes para o desenvolvimento de habilidades sociais. O senso de pertencimento inerente a todos os serem humanos vê na infância uma porta aberta para as relações.
¹Artigo "O conceito de amizade na infância: uma investigação utilizando o método clínico", de Lorena Santos Ricardo e Claudia Broetto Rossetti. Acesso em 18/03/2016: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-69542011000200007