
É muito comum os adultos próximos a um bebê brincarem de tapar o rosto com as mãos ou colocar algo que impeça o bebê de vê-lo para, em seguida, reaparecer com voz engraçada ou gestos exagerados em uma divertida brincadeira. O bebê primeiramente fica sério e depois demostra grande alegria em poder rever a pessoa. Essa repetição é feita em diferentes culturas de maneira natural, mas o que será que acontece com o bebê que a vivencia?
A explicação pode variar de acordo com a área de estudo. Por exemplo, o Psicanalista uruguaio Victor Guerra postula esta como uma brincadeira organizadora e um dos indicadores da intersubjetividade do bebê. Victor diz que é através da brincadeira que este começa a dominar a ansiedade quando do "desaparecimento" da mãe (ou daquele que cumpre a função materna) ludicamente tratando da permanência do objeto, dentre outras possibilidades como a troca de afetos, manutenção da atenção e perceber as nuances da linguagem.
Fato é que o bebê com menos de 6 meses tem a percepção de que se o objeto não pode ser visto, deixa de existir - o que a gera angústia. Só depois de passada essa fase, ele consegue procurar o objeto, sabendo que este permanece próximo e podendo prever o desfecho da ação. A brincadeira muda a medida em que o bebê desenvolve a capacidade de prever eventos futuros, sendo que, com um ano de idade, ele mesmo é capaz de conduzir a brincadeira em vez de ser apenas o expectador.
Pode-se notar, portanto, um eixo fundamental onde de um lado o bebê descobre a mãe e, de outro, a mãe necessita também ser descoberta como tal.
De modo geral, pode-se dizer que as brincadeiras de esconder que acompanharão o desenvolvimento infantil trazem possibilidade de lidar com inquietações internas com maior tolerância e desenvolvem a capacidade de simbolizar a presença e a ausência da outro, exercício que faremos durante toda a vida.